quinta-feira, 3 de julho de 2008

Música no ônibus

A cena se passa no Armazém 5, reinaugaração do espaço e lá fui eu, idiota,pra onde não deveria ter ido.
Já que os capixabas não podem mais beber nada por causa da nova lei do bafômetro (até bombom de licor ta 'proibido' pros motoristas), o jeito parece que foi se apegar à merda do cigarro. Eu não suporto cigarro, nem lugar cheio demais e lá estava assim, a própria visão do inferno. Ok, tirando essas desculpas, eu sabia que não deveria mesmo estar ali e resolvi ir embora, estava escrota demais pra se companhia de qualquer um, por mais chato que fosse, não me merecia hoje. Depois de esperar quase uma hora pelo show da grande (desconhecida) Martinália, com meus pés doendo, meu nariz coçando de gastura daquela fumaça nojenta, e minhas mãos loucas pra socar quem aparecesse jogando nicotina na minha cara, resolvi me despedir do pessoal e ir pro ponto de ônibus.
Após uns 5 minutos que pareceram eternidade, o 103 passou e eu entrei, paguei, sentei numa daquelas cadeiras altas do fundo. No próximo ponto um garoto da minha idade entra com um violão na mão e senta mais atrás. Penso no meu dia hoje, no tanto de trabalho que tenho pela frente, na chatice e insistência de algumas pessoas, na minha viagem de amanhã e no teste de natação pro Felipe passar na Marinha, ele não sabe nadar direito, numa letra triste e verdadeira da Marisa Monte que mexeu comigo hoje, no filme de ontem, que foi foda, sim..mas eu não merecia pagar 10 reais na locadora por um diazinho de atraso. Droga. De repente me bate uma tristeza aguda e eu recosto a cabeça na cadeira com vontade de chorar vendo todas aquelas luzes dos navios e embarcações em volta do Penedo, minha pedra favorita. A tristeza é aguçada com uma música dedilhada logo atrás de mim. Olho pra trás e era o garoto, concentrado tocando cada nota que emitia sons de dor pior que de parto. Era tão triste e linda ao mesmo tempo e combinava comigo naquele momento. Era como se eu estivesse olhando no espelho, era como se eu pudesse sentar do lado do cara e o que saísse da minha boca seria a letra perfeita praquela melodia.
Meu ponto estava se aproximando e me levantei, não resisti e minha boca acabou soltando um "A música que você tava tocando me inspirou pra escrever um texto agora no ônibus. Brigada", ele sorriu e disse "que bom!" e seus olhos agradeceram.

Um comentário:

Lábia na -7 disse...

Muito bom. Passei ali no porto e vi a movimentação, não fazia idéia do que era.

Agora seja uma boa menina e coloque o tal texto escrito no ônibus ae.

Choramingar por causa de bombom de licor e fazer birra por causa de cigarro é tosco, veneno por veneno, tudo suja a carne.

E mesmo eu não sendo dessa laia de pessoas que vivem em comerciais da coca-cola tenho de admitir, o dia acaba bem quando se pode assistir as luzes da baía ao som do violão.